No Cinema I, hoje, amanhã e sábado, em sessões de meia-noite, 2001: Uma Odisséia No Espaço (2001: An Space Odissey), de Stanley Kubrick, o maior filme da história do cinema. Para ser reassistido, para ser visto, em mais uma oportunidade, por quem ainda não viu.
Evidentemente, essa história de ser o maior, o segundo colocado, terceiro etc, representa opções e tendências muito subjetivas. Afinal, existem três ou quatro fitas de Chaplin (City Lights, Modern Times, Monsieur Verdoux), Marienbad, de Resnais; Citizen Kane, de Welles; Jules et Jim, de Truffaut; L'Age D'Or, de Buñuel; Outubro, de Eisenstein; Maytime, de Leonard; Lola Montes, de Ophüls - qualquer um destes também poderia ser o máximo, a referência suprema. Mas nenhum deles, além das profundas perquirições epistemológicas, coloca tão em evidência a essência, o Ser do cinema: a estesia que toma em consideração uma tecnologia em processo permanente de evolução.
Esse filme foi lançado há mais de quatro anos. Naquela época, ainda as opiniões recalcitrantes eram em quantidade maior. Hoje, que 2001 influenciou tudo - títulos e temas de livros, outros filmes, métodos de publicidade - desde a data, como ponto de referência para futurólogos, até os acordes de Richard Strauss, já muitos puseram mãos ao alto, reconhecendo o óbvio. Pois o cinema tem de ser encarado como ele é e, nunca, como subsídio artificial para ideologias e escolinhas de amadores em estado de graça.
Vale recordar algumas das passagens inesquecíveis, em 2001: o aparecimento do monólito entre os primatas e, pouco depois, numa das maiores e mais espetaculares elipses da história, um deles a atirar o osso para o alto (euforia da descoberta do instrumento), que se transfomta em nave espacial; o deslizar das naves espaciais ao som do Danúbio Azul; o computador eletrônico Hal (cujo único olho lembra o Ciclope da Odisséia, de Homero) e sua morte, quando o astronauta começa a desligar todos os seus centros nervosos; as abstrações luminosas da entrada do astronauta perto do lugar onde aterrissou e que lembram o transe lisérgico; o desfecho magistral, no décor Bourbon, com o retorno do monólito.
Para alguns, o final de 2001 seria arbitrário ou simplesmente surrealista. É muito mais do que isto; é o choque cultural. A partir desse choque cultural, a nova dialética a exprimir a crise, do racionalismo formal e aquela, ainda mais ampla, do materialismo. E tal conjuntura, se manifesta pela própria noção de falta de medida da matéria a assolar o homem.
2001 faz lembrar a odisséia do próprio cinema, em busca de uma estabilidade como linguagem, mas sempre encontrando o desafio tecnológico.
Última Hora
30/11/1972