Nesta versão, aparece também, na primeira parte, a figura do pai, Johan Strauss I, que fazia valsas e criava sucesso com sua orquestra. Ele nasceu em 1804 e morreu em 1848. O protagonista dos filmes - o rei da valsa, seu filho - nasceu em Viena, em 1825, e morreu na sua cidade, em 1899. Seu pai não queria que seguisse a carreira de músico, mas ele, enquanto funcionário de um banco, estudou violino às escondidas. Então, em 1944, formou sua própria banda e também lançava a sua primeira valsa, Sinngedichte. Em 1849, depois que o pai morreu, realizou o fusão de sua orquestra com a dele. Pleno êxito: viajou por várias capitais do mundo. Em 1862, casou-se com a cantora Jetty Treffz (a mesma que está na fita). Depois que esta última morreu, ainda teve dois casamentos: Angelica Dietrich (de quem veio a se divorciar) e Adele Deutch.
Datas de algumas de suas valsas mais famosas: O Danúbio Azul (um dos marcos da música universal), 1867; Contos dos Bosques Vienenses, de 1868; Sangue Vienense, 1871; a Valsa do Imperador, 1888. Na segunda fase de sua carreira, dedicou-se também à composição de operetas. Entre estas, as mais importantes são O Morcego (Die Fledermaus), de 1874, e O Barão Cigano (Der cigeuner Baron), de 1885.
Sob o aspecto puramente estético (cinegrafia, ritmo, teor antológico de algumas seqüências) não há nem como tentar comparar as duas produções, embora esta, atual, realizada 35 anos após, viesse a gozar das maiores perspectivas do poderio tecnológico. Basta lembrar, em A Grande Valsa, de Duvivier, cenas como aquela de Viena descobrindo a valsa, com a seqüência dos pés a bailar, a longa e inesquecível passagem nos bosques, com a elaboração de Contos dos Bosques de Viena, ou a montagem eisensteiniana, na hora da entrada de Louise Rainer no teatro, onde se representa O Morcego. Em suma quem, ao longo destes 8 ou 9 anos, tem assistido às séries de reprises de operetas da Metro, da década de 1930, já sabe das coisas.
Feita a ressalva obrigatória, não há da mesma maneira - como negar os méritos desta produção de Andrew L. Stone. De saída, registre-se que o filme envida reformular um espírito de outrora. E o faz com eficiência. Na primeira parte, em especial, lavra-se uma vela algo cômica para certas situações, consumada com bom rendimento. O ponto indiscutivelmente fraco foi a escolha do irrecuperável Horst Bucholz no papel do protagonista. Por outro lado, o veterano Nigel Patrick está muito bem na figura de Johan Strauss pai. Quanto a Mary Costa, no papel de Jetty Treffz, realiza, até na cor dos cabelos, a analogia com a cantora vivida por Miliza Korjus no outro filme. Mas, se ela é melhor intérprete, em matéria de voz, perde longe para Miliza, que, junto com Erna Sack e Martha Eggerth eram os grandes sopranos coloratura especialistas em vocalizar na onda da valsa.
O que se verifica, ainda nesta refilmagem, consiste no retorno promovido ao mood da grande fase de Hollywood da década de 1930. O público se cansou do amor abordado apenas sob o crivo erótico, da aura da epopéia ter sido substituída pela era da violência, enfim, desde The Flame and the Arrow, de Jacques Tourneur, daquele intelectualismo (que virou modismo explicado por Freud) ou pose auto-condescendente, que impedia qualquer fita de romance ou aventura ser feita a sério. Resultado: de tanto se forçar o humor, chegou-se à falta de humor. E as bilheterias falaram. Daí, o fenômeno nostalgia, que, no cinema e na música popular internacional, virou uma constante atualíssima.
A Grande Valsa pode até ser entendida como nostalgia fabricada. Muito bem, aliás. Os grandes planos de conjunto, os movimentos de câmara acompanhando as danças, a parte vocal bem defendida, alguns jogos de closes-up bem sacados, mormente das bocas na seqüência da vaia - a melhor de todas.
Se o filão continuar a ser explorado neste nível, talvez o público deixe um pouco o saudosismo via TV e volte a se animar novamente, sob o embalo do espetáculo, ou a essência do filme.
Correio da Manhã
22/04/1973