NOSTALGIA na moda; o passado é o tal de "quente". A perplexidiade diante da falta de valores no momento, o trauma da violência, poluição, competição levam àquela velha história de retorno às origens (mais próximas), bebericar nas fontes, identificação com a natureza.
NO CINEMA, a nostalgia marca profundamente um sem-número de filmes dos mais importantes, recentemente realizados. Há o endereço ao estado de espírito do espectador, além das implicações metalingüísticas - o cinema a se refazer, procurando a tal saída, livre do delírio experimentalita: a tal história do chinelo no pé & câmara na mão.
A CINEMÁTICA do Museu de Arte Moderna faz mais uma retrospectiva do filme falado norte-americano e coloca o título de Nostalgia à série, a fim de acompanhar o embalo da onda. De qualquer modo, a partir de 3 de novembro, sempre no horário de 18h30min, quando no seu auditório, e no de 24h, quando no Cinema I, teremos uma série de filmes representativos das décadas de apogeu de Hollywood, aquelas de 1930 e 1940. E os gêneros específicos que as caracterizaram, ou seja: o filme de gangster, o musical, o novelesco-sentimental, o de aventuras, a comédia. Por incrível que pareça, logo os dois mais representativos do cinema norte-americano não tem uma fita seques nessa retrospectiva: o western (considerado o “gênero por excelência”, consoante de uma visão literário-formalista do filme) e thriller (o verdadeiro gênero por excelência porque a sua ontologia é o próprio processo fílmico, a sua especificidade de efeitos).
SÃO DEZESSETE fitas. Algumas delas já andaram sendo excessivamente reprisadas, nos cinemas ou na televisão, como é o caso de Picolino, Casablanca ou O Morro dos Ventos Uivantes. Mas todos são representativas, muitas delas provocaram furor e filas intermináveis à frente dos guichês, como os mesmos Casablanca e O Morro dos Ventos Uivantes, além de Por Quem os Sinos Dobram, Jezebel e Em Cada Coração Um Pecado.
SE O PROBLEMA é de fazer reviver uma concepção, um modo de sentir, ou certas questões morais, hoje relegadas a zero, talvez nem seja obrigatório ver o rever os mais “clássicos” entre eles, como Scarface ou Do Mundo Nada Se Leva (vale recordar que, hoje em dia, é difícil agüentar meia-hora de alguns filmes de Capra). Em contrapartida, há três obras de Sam Wood que podem estar vivinha da silva: Nossa Cidade, Por Quem os Sinos Dobram (reprisado há alguns anos) e Em Cada Coração Um Pecado (este, um dos maiores filmes da década de 1940). E há a lembrança de reviver a beleza de Ava Gardner no apogeu, em Pandora, que, fugindo da órbita, já é de 1952, dirigido po Albert Lewin, o mesmo que, um pouco antes, havia filmado uma versão do antológico Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
Mas se o negócio é nostalgia, o interesse maior deve se concentrar nos filmes musicais, porque é exatamente através da música que essa onda nostálgica descerra, com maior efeito, o seu teor. Picolino, de Mark Sandrich, tem Fred Astaire e Ginger Rogers, bailados bons, canções agradáveis, cenas de comedia e qüiproquó. Era a receita típica da época. Quase o mesmo se pode dizer do Flying Down To Rio, porém, aí, há o reforço da música de Vincent Youmans e da beleza de Dolores Del Rio. Quando a Escola de Sereias, assinala o início do ápice dos metromusicais destinados à então geração coca-cola, a geração que hoje, tem uns 40 anos e foi tremendamente influenciada pelo produto de consumo do Tio Sam. Escola de Sereias é uma variante que, à música, às paisagens e ao plot inconseqüente, da receita usual, faz somar piscina, ou seja, Esther Williams (que faturou bem sua década). E além das caretas de Red Skelton, lá está Carlos Ramirez, o cantor de boleros que ficou famoso alguns anos (havia sido lançado pela Metro, dando o plá em Granada, em musicar anterior, Duas Garotas e um Marujo), cantando para Esther Te Quiero Dijiste. Realmente a vida era mais simples com os musicais da Metro… Nostalgia, Nostalgia.
Correio da Manhã
02/11/1972