O nome do diretor René Clement já era uma garantia de que a realização deveria ser, no mínimo, aceitável. Além de outras obras de maior fôlego, dentro do gênero suspense emoção. Havia dado as cartas com o recente O Passageiro da Chuva, e, principalmente, O Sol por Testemunha.
Este La Maison Sous les Arbres e apenas isto - uma garantia - dá pé. O título é enigmático. A armação da trama e a presentifácação dos personagens se consumam de acordo com a opção pelo fluxo de perplexidade, isto é, enquanto é possivel, sem o sacrifício da funcionalidade, não se oferece ao espectador o centro do entrecho - qual a razão de ser de todos os acontecimentos. Vemos um casal em estágio de conflito - o marido imerso no mundo da ciência, a mulher, apa;rentemente, irresponsável, em decorrência de assumir uma perspectiva infantil diante das coisas (entre outras, concretiza a prosáica freqüência ao psicanalista). As crianças estão na delas, embora a menina, mais velha, registre alguns fatos. Há uma vizinha amiga e dedicada e pequenos faros insólitos. Tal como na estilística das outras fitas análogas a esta Renê Clement entremeda os lances de sensação com o encantatório plástico, vinhetas entre as linhas de força do drama.
A Casa sob às Arvores só é cenário duas vezes e quando já estamos "centralizados" no assunto. Pior mesmo é o apartamento onde a familia reside e onde espocam as crises conjugais e os telefonemas embasbacantes. Depois, um comissário de polícia encarrega-se de formular as buscas e interrogatórios, bem à moda francesa
O filme prende a atenção de ponta a ponta, apesar de não ser uma catarse que outros, como Hitchcock, souberam desfechar com maior intensidade. O mistério gira menos em torno da solução de determinados fatos, do que no tocante à verdadeira natureza e papel dos personagens dentro da história. Clement possui o indiscutível savoir-faire e dá conta. da encomenda como quem estivesse almoçando (assim como Anthony Mann. antigamente, fazia westerns).
O cenário é Paris, mas não uma Paris de cartão-postal. Faye Durutway faz bom esforço no papel central e consegue sacudir um pouco o ambiente. Maurice Ronet, mais gordo e envelhecido, emerge numa aparição ligeira. Frank Langella olha para todos os lados, à procura de orientação. E Bárbara Parkins tenta reprisar o olé que deu no recente e admirável The Mephisto Waltz (Balada para Satã), de Paul Wendkos, mas fica apenas numa. passagem, onde dá uma de mulher bondiana.
Trata-se, enfim, de realização fundamentalmente comercial, de boa recreação. O que é desagradável é a obsessão pouco original de filmar as cenas de escada de baixo para cima.
Última Hora
28/10/1972