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Um homem e sua paixão

Giocchi Particolari volta, de certa maneira, a retomar o filão do filme que se autocomenta. O espia, o voyeur, que também registra com a câmara sua experiência de espectador, já foi motivo de outras fitas, como Peeping Tom.
Aqui, Franco Indovina, é autor completo da essência do filme. Além de ser o diretor, escreveu o argumento e fêz o roteiro de parceria com Tonino Guerra. E tudo rodado em Londres, com a excelente fotografia de A. Zavattini.
É extremamente pessimista a perspectiva discernida por Franco Indovina. Será apenas o vazio total do Ser, a alienação do seu relacionamento vital com as pessoas e coisas circundantes, que, em determinadas épocas, leva a arte ao seu Judismo inerente? Não tendo porque viver, Sandro, ao adquirir a objetiva de 8 milímetros, durante um leilão, descobre, súbito, o modo mais dinâmico e radical de fazer realismo: filmar sua própria vida, ao lado da mulher (Virna Lisi), provocar os acontecimentos e conduzir essa mesma vida a um desfêcho dramático, em função da obra. Em decorrência, ficção e realidade se transmutam: a existência passa a ser artificial, para que o filme venha a progredir. Sandro pega o estudante que perambula pelas estradas (Timothy Dalton) e o transforma em personagem (sem que êste saiba), tal como a espôsa.
E, a êle, resta ser
voyeur. Trata-se da atitude passiva de quem não entre mais nos acontecimentos, não participa do mundo e que, assim, paradoxalmente, lança-se na poiesis, é o inaugurador. Espiar excita, assim como a impotência excita. E o mundo, então, seria uma farsa? A resposta que Franco Indovina parece querer dar é de que a farsa é apenas a arte e a sociedade que Sandro representa.
O ritmo do filme gira em função de provocar a catarse da depressão. Tem-se a impressão de influências gritantes na concepção do diretor: a primeira delas, mais palpável, a de Antonioni, em
Blow-Up, trocando-se apenas a máquina fotográfica pela de filmar; a segunda, mais distante, porém extremamente forte como idéia geral, seria a de Bergman, de Persona ou A Hora do Lôbo, o vazio e também a presença dominante da máquina de filmar no desfêcho da fita.
Desde o início, vemos a saída de Sandro, espiando a mulher na rua, achando que ela está mais autêntica quando se livra da casa, do convívio com êle. A cena do automóvel, onde, intencionalmente, collide de leve com o outro carro. A ótima sequência do leilão, com a sátira da mensagem das mãos. Enfim, a câmara, o instrumento ambíguo que levará à criação e à autodestruição. Na casa de campo, está armado o cenário da tragédia, tudo calculado matematicamente, tanto em têrmos de acontecimentos, como de filmagens. Manipulando até a exasperação, o protagonista joga a mulher nos braços do estranho e, no final, perpetra o suicídio, fazendo que o jovem, sem saber, o mate, tal como matou o cachorro agonizante na estrada. Correlação: Sandro e o cachorro, ambos apodrecendo. Além de tudo, muitas hipóteses simbólicas, desde aquela do nôvo - o estudante - que substituirá o carcomido.
Numa realização difícil e ambiciosa, Franco Indovina consegue sair-se bem do desafio, com um filme de inegável interêsse. Marcello Mastroiani talvez não possua o tipo ideal para o papel, mas vai bem. Virna Lisi, idem idem, bela, quase totalmente despida. Timothy Dalton, ajuda a manter a tensão com seus olhares e silêncios.

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