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As contradições da "arte do século"

Já correu cerca de meio-século, desde a época em que Lenin dizia ser o cinema "a arte do século”. Era um entusiasmo pelo veículo cultural, pelo poderio deste em transmitir, sob forma de impacto motovisual, temas revolucionários. Hoje, que Eisenstein e Pudovkin oferecem um mero interesse histórico-museológico e que o mais ainda veterano e não menos comunista Chaplin (85 anos) esta vivinho da silva, tanto biologia como filmologicamente, cabe a pergunta: será mesmo o cinema a arte do século?
Hoje que a televisão esvazia as salas de projeção? E estas, um gradativo mau negócio, sumindo gradativamente? Só a nostalgia (fenomeno cultural propiciado pela era da reprodução) é que sustenta grande parte do público nos cinemas. Quem, há pouco menos de dez anos, pensaria em reprisar Melodia de Arrabal, por causa do fabuloso Gardel?
Pensamos, então, numa resposta. Não interessa se o cinema é ou não a "arte do século". Interessa, sim, focalizar o filme como o meio, a matéria cultural do século - seja através de cinema, televisão, fotografia, clicheria etc.
Essa pequena digressão constitui um introito a fim de chegarmos a uma questão contingente, um problema politicocultural brasileiro. De um lado, a visão ainda academica de encarar filme como cinema; de outro, o pesadelo dos dirigismos e daquela velha senhora, que, como é obvio, não traduz um mal necessario e, sim, um mal inevitavel: a censura. Obvio retrospectivo: a Historia, além dos grandes artistas e dos grandes pensadores, registra os grandes juristas, os grandes medicos, os grandes jornalistas, os grandes militares etc., mas jamais registrou o grande censor. Ela o escorraça, porque a propria essencia da censura já é uma atitude anti-historica.
Na área do filme, estamos diante da perplexidade institucional. Depois de um pequeno tumulto sucessorio de siglas, surgiu, um dia, o INC. Posteriormente, arrancaram-lhe algumas costelas autarquicas e geraram a empresa publica Embrafilme. Nada disso, no entanto, deu certo, porque não se atacavam problemas basicos. Agora, assim, vão fundir a desorientação e fazer a futura Cinebrás.
Por que não Filmebras? Ficariam logo na pauta os problemas do meio cultural do século e não somente os de produzir cinema. Aliás, uma boa pergunta: para quem? ou: para quantos? Mais algumas indagações: quando é que, em lugar do formalismo de estabelecer, em todo o territorio nacional, um número de dias de exibição obrigatoria do incipiente cinema nosso, não se tomam em consideração, preliminarmente, as nossas diversidades culturais? Por que dar a cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, tratamento identico a localidades onde se quer o Mobral ainda chegou? Enfim: por que não fazer uma política de filme pensando logo em televisão, levando-se em conta o seguinte: é uma realidade cultural bem maior; atinge publico centenas de vezes maior; os filmes brasileiros realizados para TV (novelas, casos especiais, documentarios etc.) são, "cinematograficamente", muito melhores, em media, do que as produções do cinema nacional.
E, aí, entra o aspecto cultural via TV Cultura. Não adianta enlatar vários temas e trazer ao video figuras solenes, engravatadas, em pose de retrato 3X4 - o dirigismo da chamada "seriedade". No cinema, o dirigismo, via censura, conseguiu transformar o hermetismo (amiude oco, é bom convir) em grossura e, não fosse a mesma censura, pornografia. As contradições estão vivas; vamos tentar ver em proximo artigo.

Correio da Manhã
21/04/1974

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

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